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English Version below.

Tarta Relena nasceu em 2016 enquanto um projeto de exploração de a cappella em sonoridades e diferentes estilos de música. Longe de querer criar um cunho no tradicional e deixarem-se ser definidas pelos sons do Mediterrâneo, Tarta Relena criaram o seu próprio repertório, que vai desde a música de tradição oral até às canções de autor que, de uma forma ou de outra, estão relacionadas com a área geográfica em que vivem.

© Duna Vallès e Clàudia Torrents

Estivemos à conversa com o duo catalão sobre o processo de criação, a incorporação de elementos contemporâneos no tradicional, a residência artística com os Lavoisier na edição do ano passado do MIL e sobre “Fiat Lux”, o mais recente trabalho.

Qual é o vosso processo de pesquisa? Como é que chegam às músicas que interpretam? Ou são elas que vos encontram?

Marta (M): Varia de canção para canção. No começo do projecto, ouvimos as canções que queríamos cantar e sentimos uma atracção a algumas melodias que nos fizeram pensar: “wow, isto é fantástico e queremos cantá-las”, por isso fizemos os arranjos para as nossas duas vozes. Para este álbum, nalguns casos, até sido ao contrário, não?

Helena (H): Encontrámos vários contextos de pesquisa e músicas de que gostamos e procurámos pesquisar as suas origens. Nesse processo, encontrámos ainda mais canções e mais melodias. É diferente em cada caso, mas é uma combinação de ambas: às vezes encontramos as canções e às vezes entramos em determinados mundos musicais e são as músicas que nos descobrem. 

As canções são cantadas em diferentes línguas, a maioria de raiz latina. Já sabiam falar estas línguas ou aprenderam-nas no processo de tomar contacto com as melodias e com as canções?

H: Falamos Catalão e Espanhol, e a Marta também fala grego, por isso ajudou com a fonética e compreensão do significado das canções quando as descobrimos. Mas não sabemos falar sefardi, grego clássico, nem sequer latim, por isso tivemos de fazer pesquisa sobre a pronúncia, o significado ou o contexto da língua. 

Inevitavelmente, muito do canto gregoriano tem uma origem religiosa ou mística, algo de que vocês não se afastam e tornam presente, inclusive, nos títulos dos vossos álbuns. Como se relacionam com esta espiritualidade?

M: Devido ao nosso passado a cantar no coro, estamos habituadas a cantar temas religiosos. Para nós, é como os clássicos do jazz: os textos religiosos são apenas materiais que estão à nossa disposição. E temos uma conexão espiritual com a música. Vivemos num país católico e experienciamo-lo também através do catolicismo, por isso recorremos a estereótipos como o da Virgem Maria…

H: Até mesmo o recurso ao latim. Só que a verdade é que podia ter sido qualquer outra religião, porque é apenas uma questão de proximidade. As referências estavam presentes na sociedade em que vivemos. Temos uma igreja em cada pequena cidade, é mesmo o que está “à mão”, se assim o podemos dizer. 

Caracterizam a vossa música de “canto gregoriano progressivo”. Em que momento da produção musical entram as texturas mais contemporâneas – os samples, as batidas, os sintetizadores? Há alturas em que pensam que estão a desvirtuar as canções devido ao processo de transformação a que as submetem?

M: Adicionar texturas electrónicas à nossa música é, para nós, uma questão de recorrer às ferramentas que temos por perto. Cantamos e tocamos música com a qual nos relacionamos e tocamo-la com as ferramentas que temos. 

H: Nós vivemos a espiritualidade das canções que têm conteúdo religioso. Não queremos mudar a natureza da música ou da melodia, mas sim sentir o que quer que seja que a música expressa e o que fazemos é alterar a forma mas não o significado, pelo menos é o que tentamos fazer. Soa diferente, novo e actual mas o que estamos a mudar é a forma, não a mensagem original. 

Falando em ‘Fiat Lux’. ‘Faça-se luz’ sobre o quê?

H: A luz é uma espécie de metáfora que encontramos posteriormente em várias canções enquanto procurávamos um título do álbum. E a luz funciona como um símbolo de autoconfiança, cuidado e conforto. Para além disso, é algo que te mostra um caminho que podes seguir para viveres a tua vida. Faz parte de um ciclo que se fecha e reabre, começa e acaba. Por isso, pensamos que seria uma boa metáfora para explicar o que queríamos dizer com as canções quando as juntamos. 

Lemos que a inspiração para este álbum vem de personagens históricas. São convocadas para este álbum as estórias também de mulheres, figuras históricas e místicas. Qual é o imaginário que desenham aqui e como surgiu a inspiração para estas canções?

M: É como dissemos anteriormente: às vezes encontramos algo e às vezes essa coisa encontra-nos. Com estas mulheres… Foi um instinto que nos colocou à frente destes textos e músicas. No final, vimos que estávamos a cantar muito sobre grandes mulheres na história. Foi uma espécie de “post-album”. E claro, sentimo-nos muito relacionadas com estas mulheres. 

Em Setembro, estiveram no MIL em residência artística com os Lavoisier. De que forma este encontro alargou o vosso conhecimento da música de tradição oral e que pontos encontram em comum? 

H: O encontro foi super inspirador e enriquecedor. Descobrimos que temos uma maneira comum de experienciar a música porque eles [os Lavoisier] falavam muito sobre o que os move na música. É como nós trabalhamos também: encontramos melodias e se essas melodias nos movem e nos chamam, pegamos nelas, trabalhamo-las e desenvolvemos uma ideia em torno daquilo que nos move. Como esse é mais ou menos o processo dos Lavoisier com a sua música e as suas versões, houve logo uma correspondência. Depois, claro, partilhámos repertório, canções e referências musicais e aprendemos muitas canções novas, o que é sempre surpreendente e inspirador. 

Por fim, falando sobre o álbum ‘Remixos’: por norma, partem de uma canção tradicional e adicionam-lhe um toque contemporâneo. Mas depois, surgiram estes remixes, por isso há todas estas camadas de interpretação e reinterpretação. Como é que chegaram a esta ideia de fazer o álbum de remixes e estão a pensar fazer o mesmo com as canções de ‘Fiat Lux’? 

M: Adoramos trabalhar com pessoas e o processo de transformar uma ideia em algo que não conseguiste prever. Trabalhar com estes produtores foi muito fixe porque permitiu-nos ver como uma canção que percepcionamos de uma forma acabou por ser algo completamente diferente. É algo que gostamos muito de fazer e este lançamento foi uma proposta da nossa editora, portanto foi meio uma proposta e meio algo que queríamos fazer. 

H: Se é algo que vai acontecer com o Fiat Lux? Não sabemos. Talvez. 

What is your research process? How do you reach the songs you work on? Or do they come to you instead?

Marta (M): It varies from song to song. At the start of the project, we heard the songs we wanted to sing afterwards and we felt an attraction to some melodies that made us think “wow, this is fantastic, we want to sing it” so we made the arrangements for our two voices. For this album, in some cases, it was the other way around, no?

Helena (H): We found different research contexts and songs we liked and we tried to research their origins. In this process, we found more songs and more melodies. It’s different in each case but it’s a combination of both: sometimes we found the songs and sometimes we enter a musical world and they are the ones who find us. 

The songs are sung in different languages, all of them from latin roots. Did you know these languages beforehand or did you learn them in the process of learning the melodies and the songs? 

H: We speak Catalan and Spanish, and Marta speaks Greek, so she helps with the phonetics and the grasp of the meaning when we first found the songs. But we don’t know Sephardic, classic Greek or even Latin, so we had to do research on the pronunciation, the meaning, and the context of the language.

Inevitably, a lot of the Gregorian chant has a religious origin, or a mystical one, and that is something that you do not run away from, including it inclusively on your album titles. What is your relationship with this spirituality?

M: Due to our past in singing in choirs, we are very much used to sing religious themes. For us, it was like the jazz classics: the religious texts are only material that are there and we can use it. We also have a spiritual connection with the music. We are from a catholic country, we also live it through catholicism so we use stereotypes such as the Virgin Mary one…

H: Even the use of Latin. But it could have been any other religion, it’s only a matter of proximity. The references were present in the society we live. We have a church in every small town, so it’s like what we ‘had in hand’, if we could say so. 

You name your music “progressive Gregorian”. In what moment of the production process do you introduce the contemporary textures – the samples, the beats and the synths? Are there times when you think you are turning them into profane songs in this transformation process?

M: Adding electronic textures to our music is, for us, just using the tools we have around. We sing and play music which we feel related to and perform it with the tools we have.

H: We live the spirituality of the songs that have a religious content. It’s not like we want to change the nature of the song or its Melody. Instead we want to feel whatever this music is expressing and what we do is change the form but not the meaning, at least that’s what we aim for. It sounds different and it sounds new and actually but what are we changing is the form, not the original message.   

Speaking about ‘Fiat Lux’. ‘Let there be light’ on what?

H: The light is kind of a metaphor we found in many of the songs afterwards when we were looking for a name for the album. And the light works as a symbol of self-confidence, self-care and comfort. Also, it’s something that shows you a way you can follow to go somewhere to live your life. It’s part of a cycle that closes and reopens, starts and finishes. So, we thought it was a good metaphor to explain what we wanted to say with the songs when putting them together.

We read that the inspiration for this album comes from historical figures. You also invoke for this album stories from women, either historical or mystical. What is the scenery you are painting here and how did they serve as inspiration?

M: Like we were saying before: sometimes we go and look for something and sometimes the thing find you. In this case, these women… It was an instinct that put us in front of these texts and songs. At the end we kind of saw that we were singing about a lot of big women in History, so it was like a “post-album”. At, of course, we felt related to these women. 

In September you went to MIL for an artistic residency with Lavoisier. In what way did this encounter broaden your knowledge of oral and folk music and what common points did you found? 

H: The encounter was very inspiring and rich. We found a common way of experiencing music because they [Lavoisier] were usually talking about what moves them in music. It’s how we work as well: we find melodies and if these melodies move us and calls us, we take them, work on them and develop ideias around what moves us. Becasue that’s more or less Lavoisier’s process with their music and their versions, it a match right away. Then, of course, we shared repertoire, songs and musical background and so we got to learn a lot of new songs, which is always mindblowing and inspiring.

At last, speaking of ‘Remixos’ album: you usually start from a folk song, then you add a contemporary touch. But then, there was a remix so there is all these layers of interpretation and re-interpretation. How did you came up with the idea of doing the remixes’ album and are you thinking of doing the same with the songs Fiat Lux?

M: We really love to work with people and the process of transforming an idea into something that you couldn’t expect. Working with these producers was super cool because we could see how a song you thought it would be one way is later on something totally different. It’s a thing we like to do and this release was a proposal from our label, so it was kind of a proposal and kind of something we wanted to do.

H: Is this something that it’s going to happen with Fiat Lux? I don’t know. Maybe.

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