Sexta, 25 Maio
22h30
Apesar de ser uma "espectadora distante", Detroit foi inequivocamente uma participante voluntária e activa no prelúdio da biografia do rap. Sendo uma cidade com uma reconhecida tradição no que toca à música soul (viu nascer a Motown) e à música electrónica, a mescla de todo este legado com outros géneros musicais emergentes era inevitável. Algures entre Marvin Gaye, Juan Atkins, o duo Felix & Jarvis e Esham, Detroit foi até pioneira em várias expansões do género e consequentemente deu à luz novas ramificações que espelhavam uma cidade que fervilhava tanto a nivel social como económico. Hip-House ou acid-rap são alguns exemplos disso. Dissecando os (discretos) primeiros passos da "Motor City" na já longa narrativa que é o rap actual, facilmente se começa a descortinar e justificar a relevância que Detroit assume na música dos dias de hoje. Se em meados do século XX, Detroit era uma enorme potência industrial (hoje praticamente sucumbida à recessão económica), em pleno século XXI, maior cidade do estado do Michigan é uma enorme potência na conjuntura da música contemporânea. Por onde começar? Eminem? J Dilla? Jack White? A lista é ecléctica e infindável. É com toda esta herança social e musical que em 1983 Detroit vê nascer Curtis Eugene Cross, também conhecido como Black Milk. MC, beatmaker, instrumentista, produtor... Yes indeed, he does it all and he does it well. Enquanto MC, Curtis caracteriza-se pela sua coerência. Dono de uma escrita refinada e assertiva, Black Milk é mais um exemplo de uma vaga de escritores de elite que têm em comum a sua origem, Detroit. Garantidamente não é apenas uma coincidência. Se a escrita é flawless, a produção é absolutamente outrageous (ofensivamente incrível)! Diggin refinado, corte minucioso, samples e drums num equilíbrio perfeito entre o sujo e o brilho que cada bombo, prato e tarola têm, e um swing que é capaz de pôr qualquer um a abanar a cabeça sem jeito e a fazer caretas de reacção ao choque com tanta criatividade. É fácil falar de Black Milk, muito fácil mesmo, mas Black Milk tem um trabalho que fala por si mesmo. Desde 2004 até ao presente, Curtis lançou vários álbuns a solo, álbuns instrumentais e álbuns em parceria com outros artistas. Grande parte da sua discografia tem o selo da Fat Beats, editora Nova Iorquina que é casa de artistas como Roc Marciano, Elzhi, Sean Price (RIP) ou D.I.T.C (entre muitos outros). "Popular Demand" e "Album Of The Year" são sem dúvida alguns dos pontos altos do seu catálogo em nome individual. "Black and Brown", álbum editado em 2011 com seu conterrâneo Danny Brown, é também um álbum digno de destaque. Dois nativos de Detroit, com dois estilos completamente distintos, mas que se completaram de forma surpreendentemente equilibrada. Exemplos? "Wake Up" e "Dada". Até ao ano corrente, Black Milk colaborou com dezenas de nomes relevantes dos quais podemos salientar Slum Village, Busta Rhymes, Joey Bada$$, Pharoahe Monch, Elzhi, GZA, Royce Da 5’9” ou Kendrick Lamar, entre muitos outros. Curtis acaba de lançar, em Fevereiro deste ano, o álbum "Fever". Este é um álbum com o carimbo da Mass Appeal Records (editora indie criada por Nas) caracterizado por uma sonoridade que vai de encontro ao neo-soul que caracteriza Black Milk enquanto produtor, mas aqui de forma mais incisiva do que nunca. Para isto, muito terá contribuído a mão dos músicos que o acompanham ao vivo (Nat Turner Band). "Escravo" do perfeccionismo, este conjunto de talentos fez de "Fever" um álbum incrivelmente orgânico e inovador. É no decorrer da tour de apresentação mundial deste novo trabalho, que Black Milk & Nat Turner Band estarão presentes em Portugal (Lisboa e Porto) para dois concertos que muito prometem. https://www.youtube.com/watch?v=4sxGlbgudcs

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