Quinta, 6 Julho
21h30
Abertura de Portas às 21:00
Tássia Reis: muito além do rap
Autêntica, corajosa e, principalmente, sem tempo para a estupidez. Com uma carreira em ascensão, uma das principais vozes femininas do rap brasileiro, Tássia Reis vem aculando hits que expressam as dores e delícias da existência, sem clichê, com bom humor e muito pouca simpatia pelo status quo Anos atrás, por um desses acasos da vida, uma jovem em início de carreira conseguiu encontrar uma das suas grandes inspirações, que deu a ela o seguinte conselho: seja sempre honesta e verdadeira. E assim foi. Preta, plena, poderosa e sem nada a provar, Tássia Reis tem seguido as palavras que ouviu de Erykah Badu e seu trabalho é um reflexo disso. Autêntico e verdadeiro são adjetivos que descrevem bem tudo que sai da mente e da boca da artista que iniciou sua carreira como rapper numa época em que a cena ainda era um território predominantemente masculino. Sem se importar em desafiar o status quo ou em se deixar estigmatizar, Tássia vem, desde sempre e num movimento crescente, absorvendo o mundo ao seu bel prazer, rejeitando papéis convencionais e padrões estéticos para seguir o seu caminho como bem entender e, principalmente, sem cair em clichês. Engajada por espontaneidade e não por obrigação, a artista tem se posicionado de forma ativa sobre racismo, desigualdade social e gordofobia, mas também sobre relacionamento, sexo e amor. Assim, não é falso dizer que a artista traz para seu trabalho a vida como ela eh, em toda a sua completude de temas. O mesmo se aplica na esfera musical. Trazendo uma grande herança da cultura afro- brasileira, particularmente o samba e o pagode, somada a uma forte influência de artistas que representam, em diferentes vertentes musicais, a cultura black em toda a sua magnitude, indo da já mencionada Erykah Badu a Beyoncé e Rihanna, passando por ícones nacionais brasileiros como Djavan e Alcione, a artista, reconhecidamente uma das vozes de rap mais proeminentes do Brasil, nunca se satisfez com lugares marcados, o que permitiu que ela se mantivesse aberta para explorar outros caminhos. Experimentando todas as opções disponíveis no cardápio, Tássia faz seu próprio buffett musical com o que tem em mente, em mãos, por isso a matéria prima não lhe falta. Crescida num ambiente onde o samba estava sempre presente, incluindo a vibe de muitos carnavais com seus sambas enredos, a artista foi ao longo da sua jornada explorando outras possibilidades, como o jazz. Assim, há 10 anos ela lançava a faixa Meu RapJazz (2013), que definitivamente a colocou diante de holofotes internacionais. Mais uma vez impecável, a narrativa é limpa e ácida como manda um bom rap e a melodia, claro, traz a sofisticação do jazz. Enquanto o piano toca, suave, mantendo a proposta elegante da faixa, a voz, também suave e absolutamente sensual, manda a real: “Não tenho tempo a perder, quero vencer por mim E lutar por você Se depender de mim, vou merecer O respeito que aprendi que devo lutar pra ter Isso me fez fortalecer, Se não fosse sagaz, tava em outro rolê”. Simples assim, o recado está dado. Seguindo sua jornada exploratoria, “Próspera”, seu terceiro álbum, lançado em 2019, que foi aclamado pela crítica especializada e considerado um dos melhores discos do ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte, ilustra bem a capacidade da artista flertar com outros ritmos e expor, com um certo deboche e , a sua existencia ou melhor, a de todos nós. Em Dollar Euro, por exemplo, Tassia não perde a oportunidade de ironizar a sua própria ascensão econômica e, ainda, escancarar o racismo. “ Acostumada a mandar a real, Tássia não segue nenhuma agenda, a não ser a sua. Dançando conforme a sua música, a cada trabalho ela se mostra mais livre, sem filtro, como é o caso de seu novo trabalho, Rude. Lançado num momento em que o país ainda estava sob o efeito de uma energia bastante pesada, sendo conduzido por uma política conservadora e extremista, se expressar era ainda mais urgente e necessário. Desta forma, trazendo um mix de drill com funk carioca e samba, a nova faixa é uma mistura explosiva de verdades inteiras e batida precisa, onde a artista detona temas como dinheiro, carreira, estilo de vida, padrões estéticos e por aí vai, fazendo com que Rude entre pelos ouvidos sem pedir licença, quase como uma porrada. O mais interessante, no entanto, é que ouvir uma vez é pedir mais. “Hahahahahahahaha/ Ai ai, e não tá gostosinho?” provoca ela, encerrando a canção e acertando, mais uma vez, em cheio. Sim, ouvir Rude eh mais que gostosinho, é uma experiência que, de uma forma ou de outra, cria uma conexão com a protagonista, fazendo com que o Não aguentam com as pretas/ Que trampam e fazem din din/ Só pensam que minas como eu são para servir (Quem?)” ouvinte queira saber mais daquele “role”, talvez até fazer parte. Esse é um dos talentos de Tássia, conseguir engajar o público com sua narrativa que, rude ou não, só entrega verdades. Como não querer mais? Assim, num crescente, Tássia segue firme em seu protagonismo que pode vir embalado em jazz, rap, drill, funk, pop, tanto faz porque o que faz essa artista ser o que eh, gigante em seu talento, é sua capacidade de contar histórias, de se fazer ouvir acima de outras vozes, deixando seu recado, rude, suave, sensual, como queira, ou melhor, como ela quer, por que uma coisa eh certa, Tássia Reis eh a boss, eh ela quem está no comando.
Discografia
Tássia Reis 2013
Outra Esfera 2016
Próspera — Tássia Reis 2019
Próspera D+ 2021

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